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Introduzir com altivez e dignidade a memória das pessoas escravizadas na história atual é uma urgência e um dever ético. Em Os profetas, Robert Jones, Jr. toma para si essa tarefa e a executa com maestria e talento extraordinários.

Isaiah e Samuel são jovens escravizados que vivem no Vazio, uma plantação no interior do Mississipi. Se amam com o vigor da puberdade e a força de seus ancestrais africanos, que considerariam o amor entre dois homens apenas mais uma, dentre tantas formas belas e legítimas de amar.

O perigo os espreita quando Amos, escravizado mais velho, se converte ao cristianismo. Proselitista e interessado em obter vantagens pessoais, ele faz da pregação do Evangelho um meio de expor os rapazes. Como se não bastasse, Timothy, jovem herdeiro dos domínios senhoriais, volta para a casa-grande e, embora tenha educação e hábitos finamente seculares, também se interpõe entre os amantes.

A Isaiah e Samuel resta a discreta proteção das escravizadas mais velhas, Maggie, Essie e tia Be, apreciadoras do silêncio e do segredo. Mas da decadência do Vazio, elas sabem, não há quem possa se livrar.

Robert Jones, Jr. conta a história dessa tragédia de forma tão sublime e intensa que chega a ser brutal. Sua escrita combina duas fortunas da literatura afro-americana: de um lado, a sensibilidade de James Baldwin no entrelaçamento do drama da dissidência sexual e da estigmatização racista; de outro, a argúcia de Toni Morrison na representação da experiência ― não apenas individual, mas geracional ― de ser ou ter sido escravizado. O resultado é uma prosa singular, que captura uma nova política e poética das origens do mundo em que vivemos.

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